quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Não vos apegueis à letra que mata


Essa frase é encontrada, nesta forma, em “Os Quatro Evangelhos”, de Jean Baptiste Roustaing. Mas nos livros da Codificação de Allan Kardec encontramos a mesma ideia. Qual o significado? Significa que, quando interpretarmos obras com caráter de revelação, devemos evitar o máximo possível interpretações literais, ou que devemos analisar mais profundamente o que lemos. É algo parecido com a expressão atual “papel aceita tudo”. Notoriamente a Bíblia é alvo de certas interpretações que acabam por torna-la desacreditada pela maioria das pessoas. Por exemplo, uma interpretação literalista do livro de Genesis sugere que o Universo foi formado em 144 horas, há 6000 anos. Ora, sabemos hoje em dia que isso não procede. No entanto, isso foi tomado por verdade absoluta durante séculos. E alguns até hoje ainda fazem isso...

E justamente, há confrades que também perpetuam esse equívoco típico de religiosos tradicionais, com a Codificação de Kardec, ou então, com as comunicações de outros espíritos. E o que acontece? As indesejáveis controvérsias entre os meios espíritas! Se lermos atentamente o Livro dos Espíritos vamos encontrar esse tipo de situação. Algumas repostas dos espíritos sugerem que só evolui quem leva uma vida absolutamente irretocável e perfeita, de “santidade”. Ora, isto é praticamente impossível na nossa condição atual aqui na Terra! Vamos errar muitas e muitas vezes! Como disse o Pai João de Aruanda:
“Você sabia que é permitido errar, meu filho? (...) De ninguém se exige sucesso durante a vida inteira, (...)” - Trecho de Negro, psicografado por Robson Araújo, Editora Casa dos Espíritos.(www.casadosespirtos.com.br)
É certo que cada dia é uma nova experiência que devemos aproveitar enquanto vivemos no nosso mundo de expiação e provas, que, a despeito de tal condição, é maravilhoso; se não é melhor, é por cortesia da humanidade que aqui está agora. Certo também devemos sempre caminhar na direção do progresso, da evolução. E só fazemos isso através do Amor e da Caridade, sempre querendo bem ao próximo, sempre procurando melhorar cada dia, purificando nossos pensamentos. É fácil? Nem sequer o Cristo disse que seria. Pelo contrário. Mas estando aqui, ou em qualquer outro lugar, é nosso dever fazer o nosso melhor. E a quem busca, com boa e sincera intenção melhorar e progredir, os bons espíritos superiores com certeza auxiliam a evoluir e se aproximar do Senhor Deus.

O que não podemos fazer é nos apegar à letra que mata, isto é, sermos como os fariseus que Jesus tão severamente repreendeu. Além de não colaborar para o real progresso, nos igualamos a pessoas que têm dificuldades de evolução (e que, na verdade, precisam de nossa ajuda). Não esqueçamos também as obras de revelação, ainda que perenemente úteis, às vezes possuem limitações de acordo com a época que foram escritas. Como o Espírito da Verdade disse:
“O que num século parece perfeito, afigura – se bárbaro no século seguinte.”
Então, confrades, para encerrar: a mensagem final é que nosso planeta ainda está em vias de evolução; nossa humanidade, ainda que a passos de tartaruga, progride. Se as dificuldades neste mundo parecem aumentar ao invés de diminuir, por outro lado, a consciência aumentou. Já não estamos mais nos tempos de Moisés, onde até crianças e animais estavam sujeitos à pena de morte por falhas. Entretanto, nossa condição não deve ser usada como pretexto para sermos omissos e negligentes para com nossos deveres. Aperfeiçoamento é um dever!
Que a Luz do Alto ilumine sempre nossos caminhos!

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Jean Baptiste Roustaing

Existe um nome no Espiritismo cuja obra, por conta de uma ideia equivocada, não tem recebido o seu devido valor. Refiro-me a Jean Baptiste Roustaing.
O equivoco em questão, os confrades mais esclarecidos já devem saber. Por comunicações mal recebidas, ou talvez mal interpretadas, ou talvez, engano por parte dos espíritos comunicadores, esse grande espírita nos passou o Docetismo, uma ideia que diz que o corpo de Jesus não era material. Sua cisão com Allan Kardec se deu exatamente por causa dessa insistência.
No entanto, a FEB (Federação Espírita Brasileira), na minha modesta opinião, acertadamente publicou no Brasil Os Quatro Evangelhos. Alguns confrades, como o grande professor José Herculano Pires, mostraram-se contrariados. Alegam que isto é apenas um misticismo antirracional. Perdoe-me o prof. Herculano, mas discordo. No meu modestíssimo ponto de vista, afora o engano principal, a obra de Roustaing não deve ser menosprezada. Não cometeria o exagero dos roustainguistas, que afirmam que Os Quatro Evangelhos é uma das dez maiores obras da literatura universal, ou que Jean Baptiste é uma das 10 maiores figuras da Humanidade. Mas sou de opinião que essa obra deve sim ser lida pelos espíritas, e não desprezada.
Ademais, se Jean Baptiste Roustaing errou em insistir que Jesus possuía um corpo fluídico, vários outros grandes espíritas também se equivocaram em alguns pontos. E o principal disso tudo, não convém esquecer: não nos dividamos por questões que, mesmo importantes, não podem ser o ponto central da Doutrina. Como ensinou o Cristo, amar a Deus sobre todas as coisas e amar o próximo como a si mesmo é de fato a mensagem suprema do Espiritismo.
Que o Senhor Deus abençoe a todos!

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Os animais no Espiritismo


Assunto de muitas discussões é a questão dos animais no Mundo Espiritual. Já em 1861, Allan Kardec, no Livro dos Médiuns debatia tal questão. Antes, no Livro dos Espíritos, em 1857, o Codificador já indagara dos espíritos reveladores sobre a situação dos nossos irmãos menos evoluídos. Vejamos o que disseram:
“...597. Pois que os animais possuem uma inteligência que lhes faculta certa liberdade
de ação, haverá neles algum princípio independente da matéria?
Há e que sobrevive ao corpo.
a) —Será esse princípio uma alma semelhante à do homem?
É também uma alma, se quiserdes, dependendo isto do sentido que se der a
esta palavra. É, porém, inferior à do homem. Há entre a alma dos animais e a do
homem distância equivalente à que medeia entre a alma do homem e Deus.
598. Após a morte, conserva a alma dos animais a sua individualidade e a
consciência de si mesma?
Conserva sua individualidade; quanto à consciência do seu eu, não. A vida
inteligente lhe permanece em estado latente.
599. À alma dos animais é dado escolher a espécie de animal em que encarne?
Não, pois que lhe falta livre-arbítrio.
600. Sobrevivendo ao corpo em que habitou, a alma do animal vem a achar-se,
depois da morte, num estado de erraticidade, como a do homem?
Fica numa espécie de erraticidade, pois que não mais se acha unida ao
corpo, mas não é um Espírito errante. O Espírito errante é um ser que pensa e obra
por sua livre vontade. De idêntica faculdade não dispõe o dos animais. A
consciência de si mesmo é o que constitui o principal atributo do Espírito. O do
animal, depois da morte, é classificado pelos Espíritos a quem incumbe essa tarefa e
utilizado quase imediatamente. Não lhe é dado tempo de entrar em relação com
outras criaturas.
601. Os animais estão sujeitos, como o homem, a uma lei progressiva?
Sim; e daí vem que nos mundos superiores, onde os homens são mais
adiantados, os animais também o são, dispondo de meios mais amplos de
comunicação. São sempre, porém, inferiores ao homem e se lhe acham submetidos,
tendo neles os homens servidores inteligentes.
Nada há nisso de extraordinário. Tomemos os nossos mais inteligentes animais, o
cão, o elefante, o cavalo, e imaginemo-los dotados de uma conformação apropriada a trabalhos manuais. Que não fariam sob a direção do homem?
602. Os animais progridem, como o homem, por ato da própria vontade, ou pela
força das coisas?
Pela força das coisas, razão por que não estão sujeitos à expiação. ...”
Como criaturas de Deus, é evidente que os animais estão sujeitos às leis naturais que regem o Universo. Portanto, é óbvio que, quando desencarnam, eles conhecem o Mundo Espiritual. Mas, como os espíritos revelaram, coisa diversa lhes ocorre do que a nós humanos.
Allan Kardec também indagou sobre a questão da mediunidade nos animais. O que lhe disse o espírito Erasto:
“É certo que os Espíritos podem tornar-se visíveis e tangíveis aos animais e, muitas vezes, o terror súbito que eles denotam, sem que lhe vós percebais a causa, é determinado pela visão de um ou de muitos Espíritos, mal-intencionados com relação aos indivíduos presentes, ou com relação aos donos dos animais. Ainda com mais frequência vedes cavalos que se negam a avançar ou a recuar, ou que empinam diante de um obstáculo imaginário. Pois bem! Tende como certo que o obstáculo imaginário é quase sempre um Espírito ou um grupo de Espíritos que se comprazem em impedi-los de mover-se. Lembrai-vos da mula de Balaão que, vendo um anjo diante de si e temendo-lhe a espada flamejante, se obstinava em não dar um passo. É que, antes de se manifestar visivelmente a Balaão, o anjo quisera tornar-se visível somente para o animal. Mas, repito, não mediunizamos diretamente nem os animais, nem a matéria inerte. É-nos sempre necessário o concurso consciente, ou inconsciente , de um médium humano, porque precisamos da união de fluidos similares, o que não achamos nem nos animais, nem na matéria bruta.”

Talvez baseado nisso, Jean Baptiste Roustaing acreditou que, quando Jesus realizou uma desobsessão (ou exorcismo, para quem preferir) naquele episódio da Legião, aqueles espíritos inferiores tenham se materializado para os porcos, assustando-os e causando a morte dos pobres suínos. Mas Kardec na Gênese questionou isso, afirmando que espíritos que outrora estavam encarnados em humanos não poderiam animar alimárias...
Por outro lado, Ernesto Bozzano, em sua obra A alma nos animais nos mostra casos de manifestações espirituais envolvendo animais que aparentemente contradizem o Espírito da Verdade na questão da erraticidade. Porém, não esqueçamos que os espíritos só revelaram a Allan Kardec o que podiam ou o que sabiam, estimulando assim a pesquisa científica; a questão do ectoplasma, por exemplo, ainda não estava plenamente conhecida.
Portanto, na pátria espiritual encontraremos nossos irmãos menos evoluídos! Porém, não sei dizer se vamos rever nossos companheiros de estimação... só Deus o sabe. E aqui na Terra, é nosso dever cuidá-los, protege-los e amá-los. A caridade se estende a eles também! Como nos diz Emmanuel: “Os animais têm a sua linguagem, os seus afetos, a sua inteligência rudimentar, com atributos inumeráveis. São eles os irmãos mais próximos do homem, merecendo, por isso, a sua proteção e amparo. (...) É certo que o Espírito jamais retrograda, constituindo uma infantilidade as teorias da metempsicose dos egípcios, na antiguidade. Mas, se é impossível o regresso da alma humana ao circulo da irracionalidade, recebei como obrigação sagrada o dever de amparar os animais na escala progressiva de suas posições variadas no planeta. Estendei até eles a vossa concepção de solidariedade e o vosso coração compreenderá, mais profundamente, os grandes segredos da evolução, entendendo os maravilhosos e doces mistérios da vida.”.
E no Livro dos Espíritos, estes dizem a Allan Kardec:
“... 734. Em seu estado atual, tem o homem direito ilimitado de destruição sobre os
animais?
Tal direito se acha regulado pela necessidade, que ele tem, de prover ao
seu sustento e à sua segurança. O abuso jamais constituiu direito.
735. Que se deve pensar da destruição, quando ultrapassa os limites que as
necessidades e a segurança traçam? Da caça, por exemplo, quando não objetiva
senão o prazer de destruir sem utilidade?
Predominância da bestialidade sobre a natureza espiritual. Toda destruição
que excede os limites da necessidade é uma violação da lei de Deus. Os animais só
destroem para satisfação de suas necessidades; enquanto que o homem, dotado de
livre-arbítrio, destrói sem necessidade. Terá que prestar contas do abuso da liberdade
que lhe foi concedida, pois isso significa que cede aos maus instintos. ...”

Então, irmãos, lembrem disso. O Senhor Deus abençoe a todos!